Um ‘Match’ Humano e Espiritual

Um Match Humano e (com) Espiritual

Ninguém ensina alguém a amar e ninguém aprende sozinho. Aprendemos a amar através do encontro!  (Jean Yves Leloup)

Cada um de nós é uma possibilidade de amor pleno. Como diziam os gregos, uma possibilidade de Ágape, de um amor totalmente aberto e gratuito que plenifica nossos seres e nos faz ser uno com o Espírito.  

Qual é a força magnética que impulsiona os seres humanos na busca de construir relações amorosas?

Quais os impulsos que podem influenciar nossas escolhas?

A atração física; a atração estética, a afinidade mental, intelectual; a semelhança vocacional; a inclinação moral; a afinidade de ideais; afinidade emocional; a ambição material; a posição social e a afinidade espiritual (!?)

O que nos atraiu, não necessariamente nos manterá na relação. Então como cuidar para que esse encontro floresça e dê frutos? Como ressignificar nossas escolhas e nossas relações? Como construir uma convivência saudável e evolutiva?

 “Dentro de cada ser humano há um vazio do tamanho de Deus” – dizia Dostoiévski. Esse vazio é uma espécie de saudade (de um não sei que), de uma sede insaciável que nos faz buscar a Fonte.

A nossa estrada é sempre uma ponte que une uma estação a outra no ciclo da existência. Nessa experiência humana estamos condenados a amar e os antigos gregos entendiam que o amor se manifestava de diversas formas e que cada ser é capaz de amar plenamente, além de si mesmo, em cada fase da vida.

Gosto muito de um livro, gerado por diversos parteiros (Roberto Crema, Jean Yves Leloup e Pierre Weil), onde Roberto trás um capitulo sobre a escalada do amor e suas estações na jornada evolutiva de um ser humana.

Assim, a primeira estação é a primavera, a estação das flores, do encantamento, da fantasia, onde nossos valores são compatíveis a um parque de diversões. É o tempo de se descobrir jovem. Podemos considerar a infância na arte de amar e ser amado. Os gregos viam aqui o amor de Pornéia, que é o amor do bebê. (De pornéia, derivam pornografia, prostituição). É o amor do bebê que necessita consumir o peito da mãe, precisa comer e beber o outro. Se nos limitarmos ao jardim de infância do amor, seremos possuídos pelo mero desejo do prazer de consumir e não haverá história para contar.

A seguir, chegamos na juventude do verão. É a estação de nos fazermos seres com os outros, sermos comunidade. É o despertar do nosso poder pessoal, da busca de nossa identidade.

A primavera se transforma no verão, assim como o amor de pornéia toma asas, através de eros. Para os gregos Eros é o amor adolescente, da juventude, da fantasia, o amor do encantamento. Eros dá asas ao amor primário, potencializando o magnetismo sexual. É a estação em que você vai em direção ao outro em busca da felicidade. Nesse estágio podem acontecer as projeções, ou seja: se você não é feliz, adolescentemente culpa o outro de sua infelicidade. Se maturarmos nossa capacidade de amar no verão de nossos dias, chegaremos no outono, sem a necessidade de reprimirmos Pornéia e Eros, mas redirecioná-los para o fortalecimento da parceria.

Outono é a estação onde as flores são transformadas em frutos que podemos oferecer. O outono não é velho, velhice no outono é querer viver com os valores da primavera. Aqui é o tempo de transmutar os valores do ter, do parecer, para os valores do ser. Orientar o ego do amor ao poder, para o poder do amor.

Segundo os gregos, quando transmutamos Pornéia e Eros, chegamos ao estágio do amor de Philia. O amor da troca, da parceria e da completude. Da filosofia e da sabedoria. É quando você vai em direção ao outro para aprender a amar e ser amado.

Esse amor dos companheiros é o amor da sinergia, é o amor colaborativo (trabalha com o outro). Aqui não há competição de quem é mais, faz, tem ou sabe mais. É o amor do casal evolutivo.

Quando a parceria vive nesse nível de frequência, transmuta o amor do consumo e da projeção, e vive o amor da aliança de duas liberdades. Não necessitam mais colocar argolas no pescoço um do outro para se sentirem seguros.

O amor de Philia é o suprassumo que podemos chegar enquanto seres humanos existindo nessa dimensão horizontal.

O preâmbulo principal para a realização é a busca pelo autoconhecimento. Nesse sentido, vamos percebendo que a felicidade é uma consequência natural de você se conhecer mais profundamente e ser quem você é. Nem mais, nem menos. Assim o estado de felicidade passa a ser uma irradiação natural por se sentir inteiro, verdadeiro, pleno, total. Esse é um estado de um alto nível de match.

Quando os parceiros integram os três níveis do amor (pornéia, eros e philia), permitem que se abra uma janela ao infinito e um convite a construir relações infinitas, para assim, serem eternas. Nesse sentido podemos falar daquele amor supremo, vertical, que os gregos chamam de ágape, o amor incondicional, o amor gratuito, amor divino, amor transpessoal. O amor que é maior que o coração humano. Quando você ama em ágape, você está trazendo à humanidade o que está além dela. É o amor do Espírito que abençoa os outros níveis em nós mesmos: amor divino que espiritualiza Pornéia, Eros e Philia. A partir desse nível, vamos em direção a realização da tarefa que viemos desempenhar: Amar! Como dizia Santo Agostinho: “Ame e faça o que quiseres”.

Esse é um caminho individual que requer importantes escolhas, pois amar é uma decisão! Quando decidimos amar com a mente e o coração, acontece o match, a magia poderosa do encontro!

Ressignificar o amor que acontece através dos encontros, é o convite desse enunciado. Me alegro com esse conteúdo ruminado e saboreado através de tantos autores, pois acredito que pode tocar o coração de muitas pessoas, convidando-as a se conhecerem, se amarem e revelarem a essência contida em si.

Esses temas, em torno do amor em todas as estações de nossas vidas, certamente encontrarão ressonância em qualquer buscador, que tem a intenção de se lançar num relacionamento, independente da estação de vida que se encontra.

Aos mais ousados, despertará o desejo de ir além das águas salobras dos encontros superficiais, permitindo um mergulho na Fonte que jaze em seus próprios corações, onde jorram as águas da bem-aventurança sempre nova, do amor e da paz.

O maior poder é a conquista de si mesmo… Será que deu MATCH!?

(Leia mais: Espírito na Saúde, Ed.Vozes; Roberto Crema, Jean Yves Leloup, Pierre Weil, Leonardo Boff e Lise Mary Lima)