(Por Edson Bundchen – CEO Banco do Brasil)
“Ao se deparar com os horrores da segunda Grande Guerra , Hannah Arendt se perguntava que tipo de monstro poderia engendrar e perpetrar tamanhas barbaridades. Que sentido moral estava em jogo ? De que forma alguém poderia colocar em ação um genocídio cuidadosamente programado e que levou à morte milhões de seres humanos ?
Quando se debruçou sobre o caso do oficial alemão Adolf Eichmann, responsável pelo envio de judeus aos campos de concentração, Arendt se deparou com uma constatação terrível e perturbadora: Eichmann era um homem comum , sem traços aparentes que o identificassem com um ser maligno e com uma personalidade psicopata . Ao contrário , o que se viu era um homem sem brilho ou inteligência superior , um burocrata como outro qualquer , mas que se via como alguém que simplesmente cumpria ordens , incapaz de sentir-se protagonista e muito menos responsável pelo mal que cometia.
A isso Arendt chamou de “ banalidade do mal “, fenômeno no qual o indivíduo torna-se incapaz de julgamentos morais por fazer parte de uma multidão , ou ligado a alguém superior que lhe dá ordens e essa cobertura invisível lhe confere isenção de culpa por total falta de autocrítica.
A expressão “banalidade do mal “ cunhada por Hannah Arendt, gerou muita polêmica. Peter Drucker, por exemplo, discordava de Arendt. Para Drucker , o mal nunca é banal, os homens é que são triviais.
A consciência do mal é crucial em momentos de tensão social. Nessas horas , instituições sólidas são fundamentais. Depender do sentimento primal dos indivíduos pode colocar em risco os pilares que sustentam a sociedade e um desses fundamentos é o fiel cumprimento da Lei .
Sem ordem , o fenômeno desnudado por Hannah Arendt pode aflorar, muitas vezes de origens improváveis , mas capazes de catalisar sentimentos reprimidos e em busca de vazão, e isso pode ser muito perigoso.
O homem levou séculos para criar a atual figura do Estado de Direito , uma construção social portanto. Apostar no fortalecimento da democracia , do diálogo , da transparência e do senso de justiça são ações que criam barreiras à violência , à injustiça , à iniquidade e à barbarie . Fora do Estado de Direito não há solução.
Por isso , é vital vigiar de forma constante os preceitos fundamentais que consubstanciam a sociedade , pois, no estado natural como preconizava Hobbes , o homem vira lobo do homem e sob o manto da banalidade do mal a violência pode não encontrar barreiras legais ou morais suficientes” .