O Eu Limitado – Reconhecendo o inimigo interior

Inconscientemente tendemos a nós cercar de pessoas que representam os aspectos ocultos de nós mesmos e se comportam de um modo que não ousamos. Uma mulher emocionalmente vivaz e charmosa, por exemplo, pode se sentir atraída por alguém indiferente, reservado…um pai que sempre trabalhou bastante, sempre fez as coisas certas, tem um filho que adora assumir riscos, quebrar as normas, andar na corda bamba, ser preguiçoso, apenas gozar a vida. Um homem descrito como um verdadeiro ‘anjo’, bondoso, mas muito ansioso, casa-se com uma mulher descrita como explosiva, manipuladora, ‘uma verdadeira filha da mãe que não se importa com nada nem com ninguém’.

Segundo a pesquisadora e terapeuta Dawna Markova, EUA, um inimigo externo, seja Hitler, Osama ou aquele colega de trabalho que você não suporta, é construído a partir de aspectos fragmentados de si próprio, do lado oculto da máscara.

Dawna descreve uma situação própria: ‘Como acontece com a maioria das pessoas, peguei alguns inimigos do porão da minha mente e lancei-os para fora da consciência, projetando-os nos outros. Quando conheci meu marido Andy, o que me chamava atenção nele era a percepção sensual e saudável que tinha de seu corpo e do mundo físico ao redor. A princípio achei aquilo muito atraente. Parecia-me totalmente estranho e desejável. Mas logo comecei a acusá-lo de preguiçoso, de ficar o dia todo por aí vivendo o momento, nunca se preocupando com as desgraças que acontecem no mundo ou com o futuro. Foi preciso um longo tempo e escorço para eu prestar atenção em mim mesma em vez de me voltar contra ele. O que acabei percebendo foi meu próprio medo medo de sentir – qualquer coisa que fosse. Para mim, sentir significava que naquele momento eu tinha de sentir minha dor. Enquanto eu me preocupasse com o futuro, poderia ignorar meu próprio sofrimento. Durante anos, justifiquei meu entorpecimento explicando sobro o quanto de bom eu estava fazendo no mundo. Os sintomas estavam tão próximos dos sentimentos quanto eu os permitia. Eu era mais leal ao corpo dele do que ao meu próprio, e isso era uma emergência espiritual. Andy era parte desperta de mim e eu era a parte adormecida dele. Se eu não aprendesse a despertar os sentimentos, a sensualidade, o corpo, acabaria morrendo.

Deixo um breve exercício para que esse conceito seja pertinente, seria útil pensar nas pessoas com quem você tem mais problemas. Pense, agora, se quiser, em cinco pessoas, do passado ou do presente, que o deixaram ou deixam decepcionado ou irritado. A pessoa como um todo pode aborrecê-lo ou apenas um determinado comportamento dela (p. ex.: ‘Não consigo suportar o Rafael, não sei por quê”. Ou: ‘A arrogância daquele governante me deixa furioso”.) Considere especialmente os ‘tipos’ de pessoas ou de comportamentos que costumam aparecer com frequência na sua vida. (por ex.: Não sei por que, mas estou sempre me apaixonando por homens agressivos’). Continue lendo “O Eu Limitado – Reconhecendo o inimigo interior”

A BANALIDADE DO HOMEM

(Por Edson Bundchen – CEO Banco do Brasil)

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“Ao se deparar com os horrores da segunda Grande Guerra , Hannah Arendt se perguntava que tipo de monstro poderia engendrar e perpetrar tamanhas barbaridades. Que sentido moral estava em jogo ? De que forma alguém poderia colocar em ação um genocídio cuidadosamente programado e que levou à morte milhões de seres humanos ?

Quando se debruçou sobre o caso do oficial alemão Adolf Eichmann, responsável pelo envio de judeus aos campos de concentração, Arendt se deparou com uma constatação terrível e perturbadora: Eichmann era um homem comum , sem traços aparentes que o identificassem com um ser maligno e com uma personalidade psicopata . Ao contrário , o que se viu era um homem sem brilho ou inteligência superior , um burocrata como outro qualquer , mas que se via como alguém que simplesmente cumpria ordens , incapaz de sentir-se protagonista e muito menos responsável pelo mal que cometia.

A isso Arendt chamou de “ banalidade do mal “, fenômeno no qual o indivíduo torna-se incapaz de julgamentos morais por fazer parte de uma multidão , ou ligado a alguém superior que lhe dá ordens e essa cobertura invisível lhe confere isenção de culpa por total falta de autocrítica.

A expressão “banalidade do mal “ cunhada por Hannah Arendt, gerou muita polêmica. Peter Drucker, por exemplo, discordava de Arendt. Para Drucker , o mal nunca é banal, os homens é que são triviais.

A consciência do mal é crucial em momentos de tensão social. Nessas horas , instituições sólidas são fundamentais. Depender do sentimento primal dos indivíduos pode colocar em risco os pilares que sustentam a sociedade e um desses fundamentos é o fiel cumprimento da Lei .

Sem ordem , o fenômeno desnudado por Hannah Arendt pode aflorar, muitas vezes de origens improváveis , mas capazes de catalisar sentimentos reprimidos e em busca de vazão, e isso pode ser muito perigoso.

O homem levou séculos para criar a atual figura do Estado de Direito , uma construção social portanto. Apostar no fortalecimento da democracia , do diálogo , da transparência e do senso de justiça são ações que criam barreiras à violência , à injustiça , à iniquidade e à barbarie . Fora do Estado de Direito não há solução.

Por isso , é vital vigiar de forma constante os preceitos fundamentais que consubstanciam a sociedade , pois, no estado natural como preconizava Hobbes , o homem vira lobo do homem e sob o manto da banalidade do mal a violência pode não encontrar barreiras legais ou morais suficientes” .